terça-feira, 6 de julho de 2010

É duro dizer: eu já sabia!

Artigo publicado na edição de 4 de julho de O Jornal.
Assim como milhões de brasileiros, jornalistas ou não, eu não acreditei, racionalmente, na seleção. De fato, ao longo dos cinco jogos eu torci, enquanto observava o jogo atentamente para escrever para este caderno.
O meu coração acreditava no Brasil, e até pensei que, com tanta coisa estranha acontecendo nessa Copa, por que a seleção brasileira, favorita pela camisa e nem tão forte pelos jogadores, não poderia ser campeã?
Por diversos fatores, mas quero citar um: a insistência Dunga em formar um grupo coeso e fraco. Tenho a impressão que na partida contra a Holanda, o treinador deve ter pensado algo como “o que eu faço sem reserva?”.
O motivo maior da redação deste texto é uma opinião que comungo com o editor-chefe deste jornal, Salomão Wenceslau, que neste momento está na África do Sul, decepcionado como os torcedores.
Quando em agosto de 2009 recebi o convite para fazer uma entrevista, a fim de integrar a equipe de O Jornal, fiquei muito feliz com a oportunidade de escrever sobre esportes. Minha felicidade aumentou quando notei que meu chefe, Salomão, embora vista muito a camisa do Atlético Goianiense, é Corinthiano como eu.
Nesta sexta-feira, após o jogo, vim para a redação de O Jornal e passei pelos estúdios da Rádio Cultura AM. Na ocasião Salomão fazia comentários e dava informações sobre os momentos pós-jogo, em Porto Elizabeth.
Ainda com um nó na garganta eu entrei no ar e fiz algumas perguntas. Salomão ainda teve a presença de espírito de brincar que a expulsão de Felipe Melo não foi surpresa, mas o passe em profundidade belíssimo para o gol de Robinho, sim.
De fato, ao me despedir, solicitei permissão para publicar algo que resultou neste texto, que é um desabafo corinthiano.Tenho a certeza de que muitos compreenderão e quero deixar claro o caráter opinativo desta redação, me retirando um pouco da tão sonhada imparcialidade jornalística.
Por que o Roberto Carlos não foi pra seleção? Há quem diga que pela idade, ou por ter sido julgado o carrasco de 2006. Mas desde que o lateral esquerdo deixou a seleção brasileira, nenhum jogador conseguiu se firmar na mesma posição.
A paixão clubística me faz (e a muitos) pensar, por que não Ronaldo no ataque, Chicão na zaga e Felipe no gol? Mas eu não vou tão longe. Me limito a falar do Roberto Carlos. Se a Jabulani foi a vilã da Copa (embora existam os árbitros também), nos pés de Roberto Carlos, na pior das hipóteses ela ia sofrer muito, visto o chute forte e rápido do atleta.
As inúmeras cobranças de falta desperdiçadas, poderiam ter sido convertidas em gol. Mas o Dunga preferiu uma equipe sem passado, sem experiência, e com pouco talento. Preferiu se impor a montar uma equipe mais competitiva. E reafirmo, isso porque lembro apenas o Roberto Carlos, porque também tinha o Ronaldinho, o Pato, o Ganso...
Dunga montou um império, uma ditadura, criou caso com jornalistas, bancou o menino rebelde, mandão e egoísta. Não levou em consideração o desejo do hexa e ignorou a frase do ônibus da seleção que dizia “Lotado! O Brasil inteiro está aqui dentro”, pois fez o que quis e como quis.
Sem desmerecer Michel Bastos, porque não é isso que me cabe, a possibilidade de um melhor desempenho pela lateral esquerda com Roberto Carlos era grande. A agilidade do craque de 37 anos ainda impressiona e em Copas do Mundo, experiência é algo que conta muito. O Dunga que o diga. Experiência como treinador ele teve. Cinco jogos, três vitórias, um empate, e uma derrota.
O que fica de experiência pro treinador brasileiro que perdeu o título e provavelmente o emprego é que não adianta querer bater o pé contra quem tem razão.
Deveria ter levado Roberto Carlos, que, mesmo tendo sido considerado o carrasco brasileiro da Copa de 2006, na pior das hipóteses ele arrumaria a meia, mas o gol contra, deixa pro Felipe Melo.